Pós quarta-feira de cinzas, dois mil e dezessete.
Não sou feito de carnaval.
Nada contra a festa, na realidade eu até gosto bastante, mas minha personalidade não se adapta bem aos festejos de uma cidade inteira em festa pública.
Sou de prazos e regularidades, padrões, sequências; a noite de sexta é, portanto, o choque natural do pedro-sociólogo acostumado às massas trabalhadoras e cansadas, silentes no transporte público, com a noite da explosão, dos estilhaços de realidades, da brincadeira de ser quem se quer.
Digo, racionalmente eu entendo, eu sei que vou presenciar tudo aquilo; meu espírito, no entanto, demora a adaptar-se - geralmente acontece lá pelo terceiro dia - e enquanto isso viro o chato do rolê, a cara emburrada no bloco.
Passei um glitter na cara e, preocupado com minha aparência, só depois notei que bastava o desejo de brilhar para justificar o que quer que estivesse na minha testa.
Esse ano fiquei na cama assistindo animes e séries quatro dias consecutivos. Achei que fosse sair algum dia, talvez um convite irrecusável, mas este não veio.
Minha ressaca da folia é readaptar-me à rotina das burocracias habituais