11.10.15

se era pra ser entusiástico qualquer discurso aqui proposto desculpo-me sinceramente à leitora desconhecida, mas peco pelo desânimo com qualquer pouco obstáculo no caminho.

salvo-me, entretanto, pela curta memória em minha lembrança, sempre substituindo os dramas de outrora pelo fracasso de ontem. sigo, sigo, sigo, coleto alegrias e tristezas tentando cristalizá-las em algo inteligível mas veja, veja, veja bem: jamais consigo. Leitora, veja bem, eu não consigo pois tais palavras, sentimentos, seus dramas e compromissos são sempre compromissos com minha própria mente, leitora, veja, eu nunca nunca consigo transmitir sentimento de vida, sentimento contraste, sentimento sol poente sobre as águas e folhas sobre os prédios e suas nuvens sempre chuvosas.

Leitora, estou preso numa realidade caótica que te obriga obriga obriga a adequar-se à lógica imposta para tentar realizar os sonhos que você acha que precisa. Leitora, até os ônibus estão infestados de propagandas. Leitora, eu nunca soube o que faço.

Doses homeopáticas de adrenalina pontual são o que me lançam ao dia de amanhã. Algumas são pensamentos, a maioria são pessoas. Uma em particular, ato perigoso eu sei, eu sei, mas é um sentimento tão bom que sem ele eu não sei o que seria de mim hoje.

Não sei terminar bem textos, peço desculpas, jamais me ensinaram a rebeldia necessária para levar a luta ao desespero. Peço paciência e perdão à leitora distraída.


o tempo passa e o sentimento de importência perante os fatos da vida é cada vez maior. se antes as poucas perspectivas convergiam para um livro dentro de bibliotecas, um quadro dentro de museus e uma música dentro de uma sinfonia, agora acesso qualquer endereço meia boca internet afora para sentir-me atrasado como sempre, debilitado como nunca, pequenino frente à massa de dados inundando telas de dispositivos e parasitando nas mentes rebeldes de um sermão qualquer.


já nem sequer faço algum qualquer sentido
talvez eu não seja tudo o que pareço ser e o futuro que me resta seja apenas um tipo de ilusão pela qual criei afeto. talvez o cotidiano seja o que me baste sem eu saber, seja o que acalenta meu pensamento. quem sabe todo esse esforço será um dia em vão, sequer lembrança opaca na poeira do tempo, no presente incerto que é a existência. pode ser que um dia eu me acomode n'algum canto e lá eu fique, quieto, esperando a próxima quebra de rotina e mais um motivo para sorrir, outro para chorar, procurando apenas preocupações vagas como a fila do supermercado e qualquer tipo de entretenimento enquanto nada mais posso fazer. talvez eu venha a rezar, um dia. talvez eu olhe para todas as elites políticas, artísticas, intelectuais e veja que sim, nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não. pode ser ainda que eu não me importe com tudo isso, que eu apenas acrescente ao pensamento presente a ideia de conformidade com o estado das coisas, aceitando a perspectiva da eternidade enquanto um acalento pro coração. talvez eu quisesse me sentir perdido de novo para sentir ter encontrado caminho algum.

8.10.15

hoje eu tive um sonho estranho. foi um sonho vívido, como poucos na vida, e nele a consciência - não do sonho em si, mas de tudo o que nele acontecia - era absurda. 

foi um daqueles sonhos sem pé nem cabeça, eu estava na fgv e algo me puxava para um prédio ao lado, eu e lucas. lucas ficou no térreo, eu peguei sem nem saber o porquê um dos elevadores até o décimo andar, não comandava meu corpo e minha mente só vagava pelas imagens que vinham. saía do elevador fluando e, frente a uma menina desconhecida, perdi todo o medo e de súbido sabia o que estava acontecendo. apenas olhei fixamente para ela e perguntei onde era. ela apontou para um porta, entrei para enfim encarar outra menina, mas com esta foi diferente. falei por pensamento que não sabia o que acontecia mas sabia que tinha o poder e que tinha consciência e qualquer coisa do tipo, ela talvez tenha respondido com algo inteligível mas isso não importa. no final do sonho pensei em como tudo fazia tanto sentido que eu precisaria lembrar dele para sempre. ainda enquanto dormia, consegui rememorar todos os passos (ainda frescos na minha cabeça, impossíveis de serem transpostos em palavras) do esquisito sonho.

gosto de sonhar assim

7.10.15

queria ter me encontrado em uma carreira que pudesse prover uma profissão nos moldes tradicionais do termo. que eu entrasse na faculdade, fizesse um estágio, me esforçasse nele e nele aprendesse; contratação, construção de carreira, definição da vida nos moldes padrões. não essa ladainha de mestrado de doutorado para então talvez - talvez - passar em um concurso público ou ser contratado em um lugar qualquer, fazer pesquisas que meia dúzia de pessoas vão ler e achar que isso é um tipo de contribuição válida no mundo. no momento, vendo minha força de trabalho intelectual para um garoto que não quer fazer seu trabalho e, oras, eu quero demais ir a um show. é o jeito de eu ganhar dinheiro, então foda-se, não é mesmo? talvez devesse ser assim, mas não sei, não consigo deixar de achar que nada disso tem sentido, que tudo isso não vai levar a lugar algum. não consigo deixar de pensar que todos os meus esforços, todos os meus anseios, no final serão resumíveis em um parágrafo contendo nome, idade, profissão, filh-s. talvez a gente não tenha um tipo de destino na terra, como queremos sempre achar. talvez nada faça sentido mesmo, e criamos as ideias para acreditarmos em nossas próprias consciências.