12.3.12

t.g.:

17 de outubro
e você teve que me matar
Não quis: teve.

A posição das aspas
A esquizofrenia divina
E toda a tragédia antiga
apenas adiaram
o suposto inevitável

Eu, tolo, resisti
por muito, diria-se
(menos do que devia,
digo eu)

Matou-me
e história alguma foi formada
nada foi descrito, contado,
senão, talvez
as lágrimas caídas

O envelope que foi entregue por sei lá quem
(talvez eu mesmo)
já deve estar rasgado

O herói foi desmentido
(visão maquiavélica do mundo)

A história, repetida
(algumas vezes)

Eu permaneci.
Mas estou morto.
E cansado.

No envelope que
me foi entregue
(por alguém, já há um tempo)
permanece o sorriso
o "eu te amo"
e toda a melodia.

No meu envelope, mantive tudo arquivado
Não deixei as traças passageiras devorarem
o bonito conteúdo
(mesmo o mais recente)
(sempre alimento meus arquivos)

Antes, expunha-o
com orgulho, emoldurado,
em minha galeria

(e podia chamá-lo
- sempre era correspondido -
ao tocar
em seu símbolo)

Agora, morto,
tudo isso perde um pouco
do sentido.

Com cuidado, retiro o quadro
(um pouco empoeirado, de fato,
mas com o conteúdo intacto)
Guardo-o com carinho
em algumas (muitas) lembranças

Com um sorriso no rosto,
apesar das lágrimas de tristeza,
observo a parede vazia
- tintura marcada com o contorno da moldura -
e sinto-me incompleto.

Mas estou morto
e mortos
não falam.

Perceba que truque gramático algum
poderia me salvar agora

Perceba que, talvez,
com uma posição das aspas diferente
à época
também eu não estaria
chorando.

Morto, frio, imóvel,
agora me afasto,
e vou embora
buscar não sei o que
com quem ou onde

Não quis partir: tive.
Parto,
mas permaneço
aqui

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