24.8.18

conhecimento venenoso

não, não venenoso feito o da asha que sofreu com a partitura da índia e paquistão, com milhões de pessoas transitando entre fronteiras, violência, insegurança e perspectivas destroçadas nesta vida e nas próximas

meu conhecimento venenoso é mais banal, é fruto da internet
das muitas formas de interagir e dizer
o que se diz
fazendo

hoje eu percebi que você me excluiu do facebook. fiquei surpreso, ofendido. não ligo tanto, mas ligo sim: parece que quis cortar os laços de uma vez. aquelas conversas todas, a tentativa de não guardar mágoas, não ficar te enchendo o saco com meus dramas de fossa, parece que serviu pra nada. você resolveu me excluir e foda-se, sabe.

eu lamentei o fato com amizades íntimas e, oras, soube que você fez a clássica performance - que eu faço também - de 'pensaram que eu tava na pior'? aparentemente você viu meu twitter, minhas reclamações mundanas em tempo real, minha infantilidade besta de expor sentimentos, registrar minhas paixões no tempo.

você não sente minha falta, afinal. tudo bem, sabe, porque é tudo especulação. sempre foi. mesmo quando estávamos juntos, o futuro era incerto: eu só esperava alguma coisa, nunca tive nada de fato. mais do nunca, hoje eu sei que nada tive de fato porque você não parecia preocupado em manter ao menos as boas lembranças.

esse conhecimento é venenoso porque me faz repensar todos os cinco anos que tivemos juntos. será mesmo que você me amava, ou era uma conveniência em sua vida? eu realmente te apoiei, ou você fez parecer que minha presença era importante?

no meu complexo de shinji, penso no que seus amigos pensam de mim. talvez atentem ao fato que sou geminiano - relação social com a qual não compartilho, já que pouco entendo de astrologia - e digam que não vale a pena o esforço. pode ser que eu seja falso, duas caras, que eu me expresso na sua frente de um jeito e na internet de outro.

sim, também. mas veja: o twitter sempre foi o meu espaço. há 10 anos eu reclamo da minha vida naquele lugar - que nunca foi seu - então me sinto à vontade para dizer o que penso. não é como se eu pensasse isso com ardor, entende? eu só pensei naquela hora. ainda concordo em parte, mas tirar conclusões de 140 caracteres é no mínimo decepcionante.

decepcionante porque você faz parecer como se fosse fácil tudo isso. você no fundo é egoísta e eu demorei tanto pra perceber. se pra você está fácil é porque não significou o mesmo que pra mim. nunca prometi amor eterno, mas meus te amo sempre foram sinceros. eu continuava te amando até bem pouco tempo, sabe, até bem pouco tempo eu ainda acreditava ser possível acreditar no você da minha cabeça. o menino-homem gentil e cuidadoso, respeitoso, carinhoso. quem se importava comigo e a quem eu direcionava meu afeto mais humilde. porque eu sempre fui humilde com você. até demais, às vezes. às vezes eu me pegava pensando e fazendo coisas porque você ia gostar daquele jeito - agora já nem sei por que.

sendo honesto, nos últimos tempos eu estava acomodado. como pensava que teria muito tempo em sua companhia, direcionei meus esforços para outras coisas. eu nunca joguei aquele dos de kyoto, tampouco o dokidoki. assistia às séries com você porque sozinho não o faria. eu achava ser suficiente o que tínhamos no momento para o que poderíamos ter em breve, naquele futuro compartilhado que eu sonhava feito bobo.

eu sinto sua falta, sim. mas a falta daquele que eu tinha na cabeça. esse conhecimento venenoso permeou o tempo revisitando todas as memórias - boas e ruins - da nossa relação. agora eu já nem sei, é como se eu tivesse me apaixonado por uma pessoa estranha, parece que você se aproveitou de mim para ter uma vida que queria ter naquele momento e que eu, por acaso, podia prover.

não que eu também não tenha feito esse movimento. mas me parece diferente.

eu me entreguei inteiro ao que vivíamos. tentava regrar meus movimentos que pudessem te machucar e queria te fazer tão feliz quanto você me fazia. eu queria estar lá mesmo sem poder ajudar efetivamente.

talvez eu só quisesse me fazer importante e esse término tenha sido um exercício de recusa do ego, como se minha existência na verdade não serve de muita coisa além do que eu finjo fazer sentido. ainda assim, é duro pensar em ter sido tão inocente...

eu queria falar com você, eu gosto de falar e resolver as coisas ao invés de ficar guardando mágoas. hoje eu vou esquecer disso chorando um pouco e distraindo a cabeça já cheia de coisas. vou guardar isso como tantas outras coisas que tenho guardado simplesmente porque me cansa pensar em destruir o pouco de afeto que ainda guardo pelo que tivemos. me entristece pensar em como uma história bonita pode terminar com umas bobagens escrotas e sem nexo nesse capitalismo tardio no qual interagimos.

se você estiver lendo isso e quiser, pode falar comigo. eu não vou me humilhar como já me humilhei, não vou te atacar e nem pedir explicação de nada. não quero nada, não. só devolver as coisas que estão na casa dos meus pais

p.s.: você tá magro mesmo e ainda acho que precisa saber escolher roupas
p.s.2: não precisa levar a sério meus dramas. o que é realmente importante eu escrevo em papel

Um comentário:

caio k disse...

deveríamos mesmo culpar o capitalismo tardio por todos os nossos problemas
eu enxergo o patriarcado como fonte de diversos problemas dentro de relacionamentos, que merda, e talvez o patriarcado como origem do capitalismo, o que faz muito sentido, também.