2.2.16

a noia da constante perseguição

VEJAM, vivemos nós numa gigantesca e sem graça vila de singelas casinhas, nas quais aquela bucólica sensação de "observam-me" é constante.

porque vejam, vejam, qualquer movimento virtual é metrificado, qualquer desabafo mais ou menos público parece sempre revelado, desvelado, suportado

pois sim perceba: até o tempo que escreves uma postagem é contado. seus afetos, seu asco, ora, tudo, apenas tudo possivelmente concebido é potencialmente monitorado, se pensares bem quiçá tua consciência está posta à prova, talvez todes estejamos assim, em vilas sem graça dotadas de singelas casinhas coloridas de sangue em pó encardido, invadindo com nossos binóculos espaços que jamais nos pertenceram

pertencerão

quem sabe devamos trancafiar-nos dentro destas singelas casas, não mais pintá-las, não (quem expõe a cor de seu sangue assim?), mas engessa-las de branco e verde, branco e verde dizem, brancas as paredes e verdes as ambições.

talvez seja essa a resposta, sabe, jamais comunicar, não, prender prender prender tudo todos os caos, todas as vidas, todas as respostas jamais concebidas porque nunca perguntadas.

será que trancafiado em mim
ecoam meus dramas sob minha pele
e rasgam o gosto triste
desta falta de propósito?

se sirvo apenas para errar
porque deveria eu
seguir?

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