4.9.15

ando pelas ruas da carioca pensando: os dias passam e cada vez mais atrelo-me sentimentalmente a este caos, a este ritmo, essa paisagem. atravessando a rua eu penso no quanto toda a desordem tem seu sentido intrínseco que eduardo paes nenhum jamais conseguirá entender, prever, domar. daí ando pela calçada com a miséria batendo à porta e pedindo que eu comprasse produtos que sequer direciono o olhar porque sei de antemão que por mim nunca serão comprados. ando pouco mais, lá está o paço com a exposição da bethânia - maria de todos nós - e a praça xv, 1808 foi aqui, penso, dividindo meus pensamentos com os passos apressados e as buzinas e miséria cotidiana dessa periferia de mundo.

é como se de nada servissem todos esses pensamentos que me sobreveem à mente sem permissão, quando vejo já estou pensando; de que razão, de que razão eles vêm? para que servem, qual sua utilidade? meramente entretenimento enquanto caminho sem bateria no celular? distração para não acometer-me com os males inerentes a todos os meus privilégios sociais? de que adiantam todas as elocubrações metafísicas se em nada, em nada elas são capazes de alterar, minimamente, a realidade humana?

eu não sirvo para os versos tampouco às teorias. minhas imagens não são harmônicas e meu braço sequer é capaz de carregar uma caixa cheia. não sei faxinar, não sei calcular. de nada sirvo, aparentemente.

hoje dividi a noite com uma sensação agonizante enquanto os segundos passavam distantes. mal tive fome, mal tive sede, não fiz o que deveria e minha mente sei lá onde esteve. agora enquanto escrevo vem o sono redentor de todos os tédios a me salvar da existência - burguesa, burguesa, burguesa. céus, pra que tanto drama se meus dramas são dramas de um privilegiado? posso eu rebelar-me sem armas? acode, drummond

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