12.9.15

basta simplesmente se importar?

é suficientemente legítimo agregar um valor identitário por uma causa simplesmente
se importando?

ou seria um tipo de apropriação sociológica dos dramas mundiais
importar-se com um fato
dramático?

basta simplesmente se importar com a miséria dos dias, a miséria dos dramas, da filosofia
ou precisamos preciso
precisamente
mudar?

se mudança ocorre, digamos,
o fim do tabagismo
e perco portanto minha identidade fumante
vale mais o bem da saúde coletiva ou o que chamo de meu momento de reflexão
minha pausa sem razão em meio ao caos urbano de uma periferia de globo qualquer
na qual os passos transeuntes apenas justificam-se com um fim, um destino
nunca um meio?

vale mais o fim do machismo
da homofobia da transfobia
ou a luta diária de militantes sem fim
por um sonho de realidade jamais opressiva?

retiramos da rotina o ódio, o ardor
retiramos dessa existência terrena todas as oposições que nos fazem nós mesm-s
algo de diferente
algo de singular

seremos, portanto,
singulares em nossas existências?
únicos em nossos paradigmas?
felizes em nossos dramas?

ou precisaremos sempre de outro outro outro
drama, paradigma,
outra existência opressora que justifique pecados capitais doses diárias de erro e resposta e cataclismos e genocídios enfim;

precisamos da opressão para que a beleza afinal resista
ou aniquilamos esse paradoxo derradeiro
em vistas a um todo igual
perante o fatídico fim humano:

não há sentido.
não há caminho.

(sigo apropriando-me de palavras em articulações desconexas criando um sentido sem som porque escrito, sem voz porque nunca falado, sem imagem porque jamais concretizado. sigo apropriando-me do que me foi ofertado ao longo de uma vida burguesa acomodada, sigo seguindo os rastros de mártires de outrora, finados pensamentos herdados de temporalidades afastadas por calendários sem nexo. sigo, enfim, sem saber muito o porquê de seguir, tentam explicar, tentam redimir, não pedi pra nascer e sigo, sigo, sigo sem rumo, sigo sem resposta, sigo digitando na esperança que um dia tudo tudo tudo produza alguma razão. não quero saber de razão: sigo)

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